terça-feira, 30 de novembro de 2010


É NATAL!

O mundo inteiro se prepara para comemorar o aniversário daquele que nos deu o maior de todos os presentes – a salvação.

Para muitos, natal é apenas troca de presentes, felicitações, festas, ceias, etc. Mas, nós sabemos que natal é muito mais do que isto. É a maior demonstração do amor de Deus para com a humanidade. É o próprio Deus se tornando homem para salvar o homem.

Se fôssemos esboçar a Bíblia ela seria dividida em três partes:

1. Gêneses 1 e 2 – Deus criou o mundo. Criou o homem para cuidar de sua criação e para viver em comunhão com ele.

2. Gêneses 3:1-14 – O homem se rebela contra seu criador e rompe relações com Ele, quebrando a comunhão entre ambos.

3. Gêneses 3:15 a Apocalipse 22 – Deus quer reatar a comunhão com o homem. E foi por causa disto que Jesus Cristo nasceu.

Em Gêneses 3:15 nós vemos a primeira promessa de Deus de enviar o salvador tão necessário. Aquele que derrotaria o diabo para sempre.

Em Mateus 1:18-25 vemos o cumprimento desta profecia e Jesus Cristo nasce. Mas, no seu nascimento não foi encontrado lugar entre os homens. Nasceu entre os animais numa estribaria. Foi rejeitado pelos homens.

Desde o início da história da humanidade Deus tem sido rejeitado pelo homem. Deus criou Adão e Eva para viver em comunhão com ele, mas eles O rejeitaram. Deus escolheu um povo para sua propriedade exclusiva e queria governa-lo. Mas, este povo O rejeitou escolhendo ser governado por um rei terreno. Deus se tornou criança e nasceu entre os homens, mas no seu nascimento não encontrou abrigo entre eles. Durante o seu ministério muitos o rejeitaram, chegaram a tratá-lo como criminoso e o crucificaram. Na sua morte, até mesmo aqueles que o seguiam o abandonaram. Apesar de tudo isto Deus não desistiu do seu propósito inicial: reconciliar o homem consigo.

Durante 33 anos Jesus viveu entre os homens e nos três últimos anos Ele, com muita clareza disse a que veio: “Vim para que tenham vida abundante” (Jo 10:10. “veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10). Tudo o que fez, foi com o propósito de mostrar que queria esta reconciliação.

Quando se aproximou a hora de sua morte, Cristo sofreu como ser humano que era. E chorando disse: “Se possível, passa de mim este cálice. Todavia não seja feito a minha vontade, mas a tua”. (Mt 26:39). Para que Cristo pudesse cumprir seu objetivo, era necessário tomar aquele cálice. Logo em seguida foi traído por um dos seus discípulos. Foi levado para um julgamento injusto e condenado à pena de morte como malfeitor. Mas, antes de morrer disse: “Está consumado” (Jo 19:30). Estava consumada sua tarefa aqui na terra. O homem agora poderia voltar à comunhão com Deus, perdida no Éden, através do alto preço pago por Cristo – sua própria vida. “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecado”.

Este é o verdadeiro significado do natal. Deus se tornando homem para salvar o homem. Muitos já têm aceitado este presente de Deus, a reconciliação. Mas, muitos ainda insistem em rejeitá-lo. Que pena!

O que o povo de Deus tem feito do Natal?

Embevecidos pela beleza apresentada através dos enfeites das lojas, propagandas na televisão, músicas natalinas, sentimentos de confraternização, muitos se esquecem do verdadeiro significado do natal e embarcam na comemoração secular se esquecendo até mesmo do aniversariante. Isto também é rejeição.

Que nestes dias possamos pensar com mais seriedade na profundeza deste ato “Deus se tornando homem para salvar o homem”.

O natal só existe e é bonito porque foi Cristo quem nasceu e não por causa do significado que o mundo dá ou para provocar um feriado.


Mana Lobão









RESILIÊNCIA NA PERSPECTIVA BÍBLICA


INTRODUÇÃO

Basta ligar a televisão em qualquer noticiário ou abrir qualquer jornal que logo se é confrontado com crimes bárbaros; envolvimentos ou dependência de drogas e tudo o que envolve o tema; guerras, doenças, catástrofes entre outros assuntos afins. Esta é a realidade caótica em que se encontra a sociedade hodierna. Pouco se noticia de bom, positivo ou que eleve o indivíduo a um estado de felicidade.

Por conta disto, o que se percebe é que o indivíduo cada dia mergulha mais em situações de desespero, depressão e, por não ver muitas vezes saída para estas situações, acaba se tornando esquisito, paranóico, com comportamentos mentais reprováveis e em alguns casos extremos chegam ao homicídio ou suicídio.

A psicologia, que tem como objetivo principal estudar o comportamento destes indivíduos muito tem ajudado, pois além de diagnosticar o problema, tenta tratar suas causas e até amenizar seu sofrimento. Mas não tem dado a devida atenção para a prevenção de muitas patologias.

Com esta preocupação, Martin Seligma, psicólogo norte americano, iniciou um movimento chamado Psicologia Positiva. Este tema “visa oferecer nova abordagem às potencialidades e virtudes humanas, estudando as condições e processo que contribuem para a prosperidade do indivíduo e comunidade.”[1]

Neste artigo, será abordado apenas um aspecto da Psicologia Positiva – a resiliência. Serão mostrados personagens bíblicos que se destacaram por esta virtude, também mostrar como a Bíblia trata destas questões em ralação àqueles que nela buscam alento e orientação.

DEFINIÇÃO DO TERMO

A psicologia define resiliência como sendo “a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas” sem surtar.[2] A resiliência pode levar a pessoa a tomada de decisão entre o que lhe causa tensão e a vontade de superar-la. Pode-se entender resiliência, também como “condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.”[3]

George Souza Barbosa ( 2006) entende a resiliência como uma mistura de sete elementos: a) Administração das Emoções. Aqui o resiliente tem a capacidade de controlar as emoções diante de situações estressantes. b) Controle dos Impulsos, que significa o controle das ações motoras e verbais diante de uma experiência emocional seja ela positiva ou negativa. c) Empatia, que é a capacidade de compreender as emoções do próximo como se este estivesse dentro de si mesmo. d) Otimismo. Crença de que as situações difíceis são momentâneas e de que elas podem ter um desfecho favorável e positivo. e) Análise do Ambiente, é a capacidade de reconhecer no ambiente alguma situação de risco bem como tomar a decisão de se colocar no local de segurança. f) Auto Eficácia. Aqui trata da confiança em si mesmo e de que será capaz de resolver seus próprios problemas. g) Alcance de Pessoas, que é a capacidade em formar vínculos com outros sem medo de desenvolver relacionamentos ou atividades com elas.

Para Barbosa, a junção destes fatores permite ao resiliente superar as adversidades que se lhes apresentarem durante sua vida e ainda poderá acodir tantos quantos presisarem de sua ajuda. Esta é uma pessoa forte para si mesma e para o próximo. A junção destes fatores ainda possibilita o desenvolvimento e a maturação das emoções.

A resiliência não é algo que se desenvolve sozinho, apesar dela ser uma virtude pessoal. “A resiliência é, na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor...”[4]. Pelos exemplos bíblicos aqui expostos, perceber-se-á a importância da presença de alguém resiliente na ajuda de alguém que precisa enfrentar e vencer as dificuldades se tornando, também, resiliente.

Gisele Szymczak, Psicóloga Clínica, mostra alguns comportamentos que a pessoa que quer ser resiliente deve desenvolver:[5]

Ø Tornar-se uma pessoa criativa, resistente a frustração, hábil na procura de soluções.

Ø Lidar com problemas, superá-los e até de se deixar transformar por adversidades.

Ø Não se abate facilmente.

Ø Não culpar os outros pelo fracasso.

Ø Desenvolver auto-confiança. As pessoas que enfrentam obstáculos se mostram vacinadas para enfrentar o próximo.

Ø Desenvolver habilidade interna para administrar conflitos.

Ø Controlar as emoções.

Ø Desenvolver a capacidade de se recuperar e crescer mesmo em meio a sucessivos problemas.

Ø Transformar a energia de um problema em solução criativa.

Ø Tira proveito do sofrimento.

RESILIÊNCIA NA PERSPECTIVA BÍBLICA

Neste ponto serão usado os elementos destacados por Barbosa na mistura que compoe a resiliência e analisado cada um na vida de personagens da Bíblia que demonstraram ter esta virtude – a resiliência.

a) Administração das Emoções – Paulo diz aos filipenses que sabe viver em qualquer situação, seja ela boa ou má. “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” (Fp 4:12) Tendo aprenido a administrar suas emoções tanto na bonança quanto na dificuldade ele agora exorta os santos a viverem alegres sempre e em qualquer situação. “Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se!” (Fp 4:4). Exorta-os para que deixem de lado as coisas que os abatem como a ansiedade, por exemplo. E como resultado desta forma de vida terão corações e mentes em paz.

b) Controle dos Impulsos - a Bíblia apresenta este elememto com a nomeclatura de “domínio próprio”. Este é uma das partes do fruto do Espírito. “... mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.” (Gl 5:23). Billy Graham (1988, p. 203) define domínio próprio como um “senhorio forte e pesado, capaz de controlar nossos pensamentos e ações”. Existem pessoas que não são capazes de controlar a si mesmos apesar de serem capazes de comandar batalhões. Outros ainda são capazes de dominar qualquer público com suas palavras cativantes, mas não o são de se dominar diante de provocações e insultos. O resiliente tem domínio sobre suas emoções o suficiente para não se abater diante destas e de outras situações igualmente estressantes. José, na casa de Potifá foi um exemplo de autodomínio diante das seduções da mulher adultera. (Gn 39:7-14). Honrou a confiança que Potifá lhe havia depositado como mordomo e não pecou contra o seu Deus.

c) Empatia – é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quem fez isto de foma inigualável foi Cristo quando deu sua própria vida para a salvação da humanidade perdida. Mas, existe outro exemplo na Bíblia que retrata também esta virtude, é a parábola do “Bom Samaritano” descrita em Lucas 10:33 a 37. A pergunta capsiosa feita pelo interpre da lei que deu origem a esta parábola foi “o que devo fazer para herdar a vida eterna?”. Então Cristo pergunta o que está escrito na Lei. Ele prontamente responde, pois era conhecedor profundo dela: “Ame a Deus, de todo o seu coração, [...] e o seu próximo como a si mesmo”.

Amar o próximo como a si mesmo é cuidar dele como cuida de si próprio não importando quem seja. COSTA (s.d., p.7) diz que “ninguém consegue viver bem com o seu próximo se ele é desprovido do sentimento amor.” O próximo não é apenas alguém que está perto, mas o que naquele momento está precisando de seus cuidados. EVANS (1996, p.200) diz que “O mandamento para que amemos a nosso próximo deve ter aplicação universal, nada de aplicação seletiva.” Se o discípulo ama somente a Deus, perde o contato com as necessidades do próximo e sua mensagem será apenas teológica. Se, porém, ama só o próximo, sua mensagem será apenas prática. Tiago 2:14-16 diz que “a fé sem a obra é morta.” Quando Cristo perguntou ao intérprete da lei quem era o próximo do moribundo, ele admitiu ser aquele que, apesar de não conhecê-lo, usou de misericórdia. Finalmente o estudioso da lei, compreendeu a dimensão do verdadeiro amor ao próximo. O samaritano, apesar de não ter profundo conhecimento da lei tinha um bem maior, um coração que não mediu esforços para amar o seu semelhante. Este samaritano compreendeu que a compaixão deveria ser estendida a todos sem discriminação. Seu ato ensinou que o conhecimento da Lei “ama o teu próximo como a ti mesmo”, nada valia se ela não fosse cumprida na prática.

d) Otimismo – Percebe-se esta virtude em Abraão quando foi sacrificar seu filho Isaque a pedido de Deus. Abraão respondeu a seu filho “Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22:8). Aqui Abraão tinha confiança de que aquela situação poderia se reverter a qualquer momento. Em nenhum instante ele perdeu a esperança de que Deus agiria de forma que o desfecho fosse favorável e não trágico como parecia.

e) Análise do Ambiente – A viagem de Paulo para Roma juntamente com outros prisioneiros descreve bem esta situação. Por causa da situação climática Paulo advertiu ao comando do navio que não deveriam partir de Creta. Mas, não foi ouvido. O tufão de vento chamado Euro-aquilão deixou o navio sem controle, ficando totalmente a mercer do forte vento. Os marinheiros já haviam jogado toda a carga no mar tentando impedir que o barco não afundasse. E quando já estavam a ponto de se jogar no mar na tentativa de se salvarem, “Paulo disse ao centurião e aos soldados: “Se estes homens não ficarem no navio, vocês não poderão salvar-se”. (At 27:31). Foi a capacidade do resiliente Paulo em ver que a segurança naquele momento estava na permanencia de todos no navio, mesmo parecendo ser aquela uma idéia ruim. Mas, foi isto que salvou a vida de todos.

f) Auto Eficácia – Existem pessoas que sempre estão procurando alguém para resolver seus problemas. Isto acontece muito nas igrejas onde os membros estão sempre a procura de um guia espiritual para lhes dizer o que e como fazer. Não são capazes de tomar um rumo sem o conselho do seu guru espiritual. Para estes, chega a ser cômodo pois se errarem, terão a quem culpar. O resiliente não é uma pessoa auto-suficiente, mas também não é dependente. É alguém que confia na sua capacidade de resolver seus problemas e mesmo que busque ajuda externa, tem a convicção de que a responsabilidade será toda sua na resolução deles. Paulo era uma pessoas assim. Tinha iniciativa, não dependia de outros para realizar suas tarefas, líder e eficiente no que se propunha realizar. Como consequencia desta virtude ele plantou muitas igrejas. Nas Cartas de Paulo escritas no Novo Testamento, estão demonstradas esta virtude dele.

Em meio a todos os sofrimentos, Paulo continuou cultivando qualidades de pureza, inclusive a sinceridade, como também a integridade nas questões financeiras; ciência, especialmente no seu modo de levar as pessoas ao conhecimento de Deus pelo Evangelho; longanimidade, usando de autocontrole em lidar com pessoas difíceis e circunstâncias difíceis; e benignidade, como benignidade, paciência e longanimidade de Deus (cf. Rm 2.4).[6]

g) Alcance de Pessoas – Jesus não mediu esforços para alcançar a humanidade perdida e deu a sua própria vida para permitir ao homem a possibilidade de relacionamento com Ele. Uma outra pessoa nobre neste aspcto foi Barnabé. Quando Paulo procurou se juntar com os discípulos não foi aceito por eles, pois não acreditavam na sua conversão (At 9:26,27), “Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus.” Mais a diante Barnabé, mesmo contrariando Paulo e desistindo da parceria missionária com ele, resolveu dar uma nova chance também para João Marcos – “Tiveram um desentendimento tão sério que se separaram. Barnabé, levando consigo Marcos, navegou para Chipre, (At.15:38). O argumento de Paulo era porque João Marcos já os havia abandonado anteriormente – “De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram para Perge, na Panfília. João os deixou ali e voltou para Jerusalém.” (At 13:13). Agora Barnabé estava investindo mais uma vez em João. Se daria certo ou não, só saberia depois. O fato foi que Barnabé não se deixou intimidar nem pelo perigo que Paulo poderia representar, nem pelo medo de se decepcionar outra vez com João Marcos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (Jo 16:33). Jesus Cisto disse isto aos seus discípulos há mais de dois mil anos atrás. Certamente Ele sabia de tudo o que, não só o seu povo, mas toda humanidade haveria de passar: guerras, doenças, catástrofes entre outras situações afins. Ele nunca prometeu aos seus que seria fácil, mas também nunca disse que seria impossível. A mensagem resiliente e de ânimo dita naquela época é perfeitamente aplicável hoje em nossos dias cheios das más noticias e de desesperança diante das situações estressantes. “Tende bom ânimo” significa que a pessoa deve esperar vitória sobre aflições, pois elas passam. Pensar no melhor diante das adversidades da vida ajuda a passar por elas e é dependendo desta atitude positiva que o resiliente é capaz de vencê-las.

Exemplo: quando recebemos um limão de “presente”, podemos fazer duas coisas com ele. Ou descascá-lo e come-lo com todo o seu azedume e amargor ou fazer uma limonada e nos refrescarmos nos dias de muito calor. É a atitude positiva ou negativa diante de tal presente que determinará o resultado positivo ou negativo. O que Cristo quer dizer com “Tende bom ânimo” é que a pessoa deve ter esta atitude positiva diante das adversidades da vida e com isto, tem mais facilidade de vencer, pois Ele venceu e será capaz de dar a vitória para quantos a buscarem.

Antes de Paulo dizer aos filipenses “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4:13), ele falou da importância de se ter pensamentos nobres. “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.” (Fl 4:8). Este é um exercício que se deve fazer diariamente com a ajuda de Cristo. Fora disto o homem tende a ver as situações sempre pelo lado negativo, pois pensamentos derrotistas não podem animar ninguém em situação nenhuma. Quando Paulo diz que “tudo pode” não significa que ele tem super poderes, mas quer dizer que, não importam as circunstâncias, ele crer que em Cristo terá vitória e que Ele supriria a força que precisasse para enfrentá-las. A tradução da NTLH esclarece bem esta questão. Ela diz: “Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação”.

“Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados, dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles.” (2 Co 4:16,17). Aqui Paulo consola os coríntios que estavam passando por “leves e momentâneos” sofrimentos. Ele os considerou assim antevendo as bênçãos que os esperavam como resultado daquela experiência e aprendizado.

O chato de uma provação é sua aparente inutilidade. Mas, a Bíblia garante vitória para os que a vencerem (Tg 1:12). No momento talvez pareça sem utilidade, mas se a provação for encarada de forma positiva, os resultados abençoados logo serão vistos. Um deles, geralmente é maior aproximação com Deus. Quando se crer que tudo, realmente coopera para o bem dos que amam a Deus e que Ele jamais colocaria um dos seus em alguma situação se fosse para o seu mal, a fé é fortalecida, a espera pela vitória se torna suave, pensamentos nobres são estabelecidos, o bom ânimo se instala e a força para vencer qualquer situação, em Cristo, surge.

Portanto, a exemplo de Paulo que diz: “esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo (...)”(Fl 3:13), aquele que detém a virtude da resiliência prossegue suportando traumas em todos os aspectos e ainda assim mantendo sua integridade física, emocional e psicológica intacta. O termo “prossigo” demonstra que o autor não está preso ao passado, mas tem interesse no seu presente, olhando para o futuro em busca do “alvo”. Paulo Roberto Seabra diz que

“Na verdade, ninguém pode desligar-se da sua história pessoal. O que se deve fazer é uma cuidadosa leitura do passado, procurando identificar os conflitos, as contradições, os traumas, etc. Verificar, também, os momentos bons, que representaram conquistas e vitórias.”[7]

O passado faz parte da história de cada um. O que Paulo expressa é a necessidade de não se prender neste passado, mas dar impulso e continuar compondo sua história. E se por acaso houve dificuldades de quaisquer espécies, que elas não sejam motivos para atrapalhar este prosseguir em busca do prêmio.

Para um resiliente, o passado, tenha sido ele bom ou não, nunca determinará o seu presente ou futuro. As lições tiradas dele, certamente lhe darão capacidade para lidar com os problemas tanto no presente como no futuro.


REFERÊNCIAS

1. BARBOSA, George Souza. Resiliência (psicologia).

In (http://pt.wikipedia.org/wiki/Resiliencia_(psicologia))

2. Bíblia Thompson em CD-ROM, NVI. Editora Vida

3. COSTA, João Arantes, Revista de EBD: O compromisso do crente- Princípios Bíblicos da Ética Cristã. Editora Cristã Evangélica, ANO XXVI - no 2, p. 7

4. EVANS, Craig A. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora VIDA, 1996, p. 200

5. GRAHAM, Billy. O Espírito Santo – ativando o poder de Deus em sua vida. Vida Nova, São Paulo: 1998.

6. HORTON, Stanley M. I e II Coríntios: Os Problemas da Igreja e Suas Soluções. 1.ed. Rio de Janeiro, CPAD.

7. Resiliência, Fé e Cuidados Paliativos. In:

http://escutandodeus.wordpress.com/2009/09/12/resiliencia-fe-e- cuidados-paliativos/

8. SZYMCZAK, Gisele. Resiliência. In: http://resiliencia29.blogspot.com/

9. SEABRA, Paulo Roberto. Pensamentos e Atitudes. In: http://www.seminariodosul.com.br/site/index.php?Itemid=67&id=227&option=com_content&task=view

10. YUNES, Maria Angela Mattar. Psicologia Positiva e Resiliência: o foco no indivíduo e na família. In: (HTTP://www.scielo.br/pdf/pe/v8nspe/v8nesa10.pdf)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vida e Obras de João Batista Pinheiro


Aguardem:

Este conteúdo faz parte de meu próximo livro: "AICEB, uma história de amor"



“Deus escolhe as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes.” (1 Co. 1:28).

João Batista nasceu em 1850, num pequeno povoado a sudeste do Ceará chamado Icó. Filho de uma família muito pobre e, quando ainda criança, ajudando o pai na lavoura, foi atingido no polegar do pé direito por uma enxada. Por causa disto contraiu framboésia, uma erupção cutânea própria dos trópicos. Com o passar do tempo a perna foi inchando e por causa das feridas, atraia muitas moscas, piorando ainda mais a situação de João Batista. Não demorou muito para que todo o seu corpo fosse atingido. Algumas partes foram mais prejudicadas. No nariz saiu uma ferida que em pouco tempo o destruiu totalmente. Na adolescência, sua família o levou para a cidade grande em busca de tratamento médico. Enquanto aguardava, vivia momentos de grande esperança e ansiedade, pois não sabia o que de fato aconteceria com sua perna já bem infeccionada. Os médicos fizeram tudo o que puderam, mas na tentativa de salvar-lhe a vida, tiveram que amputar sua perna direita, o que o levou a frustrações e desencorajamento.
Em 1877, a região Nordeste, mais especificamente o sertão do Ceará, foi violentamente atacada por grande seca. O Governo, tentando amenizar o sofrimento de seus liderados, providenciou meios para aqueles que quisessem ir a outros lugares em busca de melhores dias. Tendo a família de João Batista ouvido falar de que no Estado do Maranhão a vida era mais fácil e com melhores condições, decidiu se mudar para o município de Viana. A viagem foi árdua até chega ao seu destino. Mas não se arrependeu, pois as chuvas eram regulares permitindo ao solo a produção abundante de frutas e legumes.
Com a mudança climática brusca e problemas de adaptação, todos sofreram com febre e outras enfermidades. Isto só piorou ainda mais o estado de saúde de João Batista, obrigando sua família a buscar paragens mais saudáveis e que garantissem, pelo menos, sua melhora. Nesta busca, em 1878, chegaram a Barra do Corda, onde se radicaram definitivamente. Não terminaram aqui os seus sofrimentos. João Batista, com o rosto deformado pela falta do nariz, sem a perna direita e sem condições de trabalho, por causa das dores fortes e porque, de vez em quando, arrebentavam as chagas por toda parte do corpo, vivia praticamente a mercê da proteção dos parentes e das esmolas que recebia de pessoas caridosas. Como se não bastasse, a terrível doença também atingiu, de forma irreversível, a outra perna. Após dois longos anos lutando contra a doença e sem conseguir bons resultados João Batista viajou para São Luís, capital do Maranhão, em busca de auxilio médico, mas de nada adiantou. Já sem condições de qualquer recuperação a outra perna também foi amputada. Agora o futuro lhe parecia ainda mais aterrador.
Após um longo período confinado no hospital, breve João Batista teria que enfrentar as ruas da cidade. O que lhe parecia uma terrível experiência. O medo era grande, especialmente por causa de sua aparência, agora sem nariz e sem as duas pernas destruídos pela doença. Seria difícil ignorar os olhares que lhe lançariam. Seria difícil enfrentar o olhar casual desdenhoso daqueles que passassem "do outro lado." E ainda tinha que zelar por sua segurança. Em seu coração ecoava a grande interrogação: "Por quê?" Bem no fundo havia uma necessidade de entender, um desejo de encontrar algo que satisfizesse a ânsia de seu jovem coração amargurado.
Já recuperado da cirurgia João Batista teria que voltar para perto dos familiares onde tinha sustento garantido. Mas, em vez de voltar para Barra do Corda, resolveu tentar a vida em Manaus - Am. Após dois anos, não atingindo por lá seus objetivos, retornou para São Luís onde conheceu uma moça chamada Mariana. Esta moça estava disposta a compartilhar de suas poucas alegrias e muitos sofrimentos. Ela, além de devotar seu amor e cuidados ao longo de seu casamento, lhe presenteou com cinco filhos: Azubal, José, Tadom, Antônio e Ezequias Batista Pinheiro. De São Luís retornou para Barra do Corda.
Em Barra do Corda João Batista aprendeu a viver dependente das esmolas públicas. E já não ficava tão desapontado quando seu pedido não era atendido, pois no coração ainda brotava uma pequena esperança de aparecer alguém mais caridoso que lhe daria mirradas esmolas. Por causa da falta das pernas sua locomoção se dava sobre uma tábua pequena com rodas. Com o auxilio das mãos, também protegidas com couro, empurrava este improvisado assento que era preso ao seu tronco.
As condições de vida para ele pioraram muito visto que não poderia trabalhar e em Barra do Corda não havia muitas opções para alguém com limitações como as suas. A mendicância ali não lhe rendia o suficiente para sustentar a família. Com isto João Batista resolveu deixar Mariana na companhia de seus parentes e tendo ganhado passagens foi para São Luís e de lá, no seu limite físico, viajou no porão de um navio até Recife-Pe., em busca de recursos financeiros que garantissem o seu sustento.

Seu Encontro com Cristo

João Batista levava na bagagem uma imagem de “Nossa Senhora da Conceição”, que pertencia a sua irmã. Ele a estava levando para renová-la visto que já estava bem desgastada pelo tempo. A única forma que João Batista conhecia de culto era através da idolatria. E aquela imagem, depois de restaurada, serviria como companheira nas calçadas de Recife ao esmolar. Serviria, também, como demonstração de sua devotada fé nas virtudes da imagem. Com certeza aquela cena comoveria o coração dos, também, idolatras que lhe dariam esmolas. Com isto, pensava ele, teria dinheiro para suas despesas pessoais e, quem sabe, também o suficiente para guardar e levar para sua família.
Depois de algum tempo de sofrimento naquele vapor por causa de suas condições físicas e escassez de dinheiro, João Batista chegou a Recife e não demorou muito para conhecer os principais pontos da cidade. Pelas ruas se arrastava em busca de pechinchas para aliviar-lhe a fome ou para esquecer seu tão grande sofrimento.
Numa certa noite depois de mendigar o pão, já bastante desanimado, foi atraído pela musica e cânticos vindos de uma igreja Presbiteriana. Aproximou-se, parou na porta e olhando para dentro da igreja viu que tudo aquilo era totalmente novo para ele. Uma igreja sem altar, nem velas, enfeites ou imagens. Também era novo aquilo que o pregador falava. Pela primeira vez ouviu sobre o evangelho que salva; o único caminho para o céu; Jesus Cristo e o imenso amor de Deus para com o pecador. Pela primeira vez ouviu promessas de vida eterna. Dali em diante passou a visitar com mais freqüência àquela igreja. Reconhecendo seu estado miserável e crendo nas palavras de redenção oferecidas por Cristo, poucos dias depois O aceitou como o único que poderia salvá-lo. Isto aconteceu por volta de 1892.
Logo em seguida foi alimentado espiritualmente pelos seus novos irmãos. Ele tornou-se o ouvinte mais pontual daquele pregador. Também ganhou uma Bíblia e convencido da verdade que havia em Jesus, João começou a estudá-la. Decorou vários trechos (aqueles freqüentemente citados pelo pregador) e aprendia mais e mais sobre a maravilhosa salvação oferecida por Deus a pessoas como ele mesmo. Cristo agora era a razão de sua existência e a Bíblia, a fonte onde encontrava conforto. A velha imagem que antes era sua companheira de mendicância foi abandonada. Consigo, agora, carregava a Bíblia. E a mendicância que antes era apenas um meio de sobrevivência, agora se tornou uma oportunidade para falar de Cristo aos seus benfeitores.
À noite, em sua rede, ele refletia sobre o imenso amor de Deus, sobre o desprendimento de Jesus ao tomar sobre Si a punição dos perdidos pecadores. "Que perdão maravilhoso! E é meu para sempre," disse ele ao reconhecer a graça de Deus. O moço conhecia muito bem o significado do sofrimento e a angústia mental que resultavam da dor física, da ansiedade e da solidão. Mas, o seu sofrimento era pessoal, era resultado de doença. Por outro lado, o puro e santo Filho de Deus havia suportado agonias inomináveis em seu corpo e em sua alma, em favor de outros, porque os amava mesmo sendo eles pecadores. Ele era o único que poderia salvá-Ios porque era puro; o único que podia redimi-los e destruir aquele que os trazia em servidão. "Aleluia," gritou João Batista enquanto meditava no inigualável amor de Cristo para com os pecadores perdidos.
Como esta mensagem era diferente da superstição, feitiçaria e falsos ensinamentos que abundavam naqueles vilarejos ao longo do rio Mearim! João Batista tinha muitos parentes em Barra do Corda. Começou a pensar neles, no temor que eles tinham da morte e da vida futura e na servidão em que a feitiçaria os trazia. Seus parentes e amigos ainda se encontravam presos pelos mesmos grilhões que um dia o haviam prendido. Quanto mais pensava neles, na condição de escravos em que se achavam, mais crescia a vontade de lhes compartilhar a maravilhosa alegria que agora enchia o seu coração. A verdade que o havia libertado poderia também quebrar os grilhões que aprisionavam os seus. Ele sentiu então a necessidade de levar as boas novas até seus parentes em Barra do Corda.

Sua Visão Missionária

Durante a longa viagem de volta para o Maranhão passou por vários lugarejos esmolando para se alimentar. Enquanto isso aproveitava para falar do amor de Deus a todos os que dele se aproximavam. Alguns davam a esmola, outros a negavam por ser ele crente e outros davam com uma condição: “que a aceitasse em nome do santo “fulano”. A estas, João Batista se recusava receber. Durante seu retorno Deus providenciou para que nada lhe faltasse. Pessoas se dispuseram a ajudá-lo no que fosse possível. O testemunho de João Batista era visto através de sua coragem em vencer seus próprios limites
Ao chegar a São Luis, João Batista encontrou um grupo de crentes. Contou para eles suas experiências em Recife e como agora era uma nova criatura em Cristo Jesus. O seu coração se alegrou junto com estes irmãos, onde aprendeu mais da verdade e da segurança que a Palavra de Deus oferece aos que recebem Cristo pela fé. Ele participava dos cultos fielmente e logo se tornou membro daquela igreja. Cada dia aumentou mais o seu desejo de levar as boas novas de salvação aos seus parentes em Barra do Corda. Mas, como poderia um aleijado como ele viajar sozinho de barco pelo rio a cima até Barra do Corda? Alguém precisaria ajudá-Io. Só de pensar que teria de entrar e sair da barcaça várias vezes durante cada dia da viagem para satisfazer suas necessidades fazia com que sua idéia parecesse impossível de ser realizada. Mas, não havia ele ouvido o pregador afirmar que para Deus nada é impossível? João Batista estava convencido de que Deus tinha um plano para ele. O Deus que nunca falha havia colocado um grande desejo em seu coração e, certamente cumpriria estes planos.
João Batista foi conversar com seus novos irmãos daquela pequena igreja. Eles oraram juntos e lhe prometeram fazer tudo que estivesse ao seu alcance para ajudá-Io. Arranjaram-lhe as coisas que precisaria, deram-lhe um hinário e uma Bíblia e o levaram até a barcaça que já estava abarrotada de caixotes, passageiros e sacos de aniagem com sal bruto. Ajudaram-no subir a bordo e prometeram que se lembrariam dele em suas orações. A lancha se aprontava para rebocar a barcaça, que o povo do norte chamava de batelão, rio acima. A viagem tinha uma duração aproximada de duas semanas. Corajosamente João Batista acenou em despedida para seus novos irmãos em Cristo.
Em 1893, retornou para Barra do Corda a fim de anunciar as boas novas aos parentes e amigos. Sabia das dificuldades que certamente enfrentaria por causa dos seus limites, mas ardia em seu coração o desejo de pregar para outros e cria que Deus o ajudaria no retorno para sua cidade. Foi assim que empreendeu uma longa viagem até seu campo missionário, Barra do Corda situada as margens daquele rio.
Como as demais, esta foi uma viagem muito incômoda pois lhe faltavam ambas as pernas para sua locomoção. Tanto os passageiros como as bagagens no batelão eram protegidos do sol e da chuva por um teto de folha de palmeira. Havia pouco espaço para se mover; havia sacos e engradados por todo lado. João Batista precisaria de ajuda para tudo, até para atar sua rede para o descanso da noite. Entre os passageiros encontrou alguns que, vendo sua precária condição, se dispuseram a ajudá-Io em tudo que pudessem. Penduraram sua rede num nível mais baixo, de forma que ele pudesse se arrastar sozinho para dentro. A hora das refeições, aquelas mesmas pessoas prestativas lhe enchiam um prato esmaltado de arroz e feijão retirados de grandes panelas de ferro, que ficavam na popa do batelão sobre fogão à lenha.
O sabor da comida a bordo fez João Batista relembrar sua vida no interior. Para temperar o conteúdo de cada panela o cozinheiro usava um punhado daquele sal bruto. Com grandes colheres de pau ele retirava a espuma que se formava em cima da água fervente. O sal era muito impuro e o que não era sal tinha que ser retirado e jogado fora.
Mesmo assim, o arroz e o feijão feitos ali mantinham aquele sabor distinto do sal bruto.
Durante a viagem ele aprendeu muitas e preciosas lições do Senhor. Uma delas foi a importância daquele sal tão grosseiro, sujo e feio que estava no batelão, mas que tinha a utilidade de dar sabor ao alimento que o sustentou durante aqueles dias. Aplicou aquela lição à própria vida reconhecendo que não era a aparência física que influenciava. Sabia que ainda era imperfeito como aquele sal grosso, mas que Deus o refinaria e o transformaria em algo útil para o Seu trabalho. Reconheceu que o importante era a vida com Deus e o conhecimento de Sua Palavra. João Batista aprendeu na Palavra que ele era o sal da terra “Vos sois o sal da terra.” (Mt. 5:13) Será que todo aquele sofrimento pelo qual ele estava passando não era a poderosa mão do Senhor refinando-o para ser muito bem usado? Ele aprendeu a lição e agora estava disposto a desempenhar o papel de “sal da terra” no meio daquela geração perversa que morava em Barra do Corda. Seus companheiros de viagem reconheceram que havia algo diferente em João Batista. Eles ficavam impressionados com a coragem daquele aleijado em vencer suas próprias dificuldades. João era grato por tudo o que ali faziam por ele, e se mantinha sempre alegre e amigo.

Seu Campo de Trabalho

Ao chegar a Barra do Corda muitas foram as mãos que se dispuseram ajudá-lo a sair da lancha. Seus parentes e amigos vieram recebê-lo e logo notaram grande diferença em João Batista. Não estava triste e abatido como todos esperavam. Apesar de não ter mais as duas pernas, sua aparência era boa e saudável. Parecia feliz e de fato estava. Todos queriam saber das noticias da cidade grande. João Batista não economizou nos detalhes. Mas, existia algo mais importante que ele queria compartilhar. Como ansiava pelo momento de falar para todos sobre a salvação em Cristo. João havia voltado ao interior exclusivamente para divulgar a grande salvação, mas ninguém parecia querer ouví-Io. Mesmo assim ele aproveitava cada oportunidade para testificar de Cristo àqueles que só se interessavam por suas experiências nos hospitais e nas viagens. Mas, a única coisa que ele conseguia era despertar o ódio e desejo de perseguição dos cordinos. Isto o deprimia. A Bíblia e a comunhão com Deus o reanimavam muito e o relembravam da gloriosa missão para a qual foi enviado - “Vós sois o sal da terra.” Deus havia lhe dado aquela missão e junto, também, lhe deu um grande amor e determinação.
Barra do Corda era território de Satanás há muito tempo. O medo aterrorizante de ser punido pela feitiçaria e por seus deuses, por dar ouvidos aquela nova religião, criou uma atmosfera de ódio e violência do no povo contra ele. A irmã de João Batista, dona da imagem que ele havia levado para Recife, também não estava muito satisfeita por ele ter dado fim naquela tão preciosa relíquia. Mas, apesar de tudo, João continuava se reunindo com os que queriam ouvir da Palavra de Deus e aproveitava para dizer que a idolatria era abominação ao Deus verdadeiro.
A notícia se espalhou rapidamente e logo chegou aos ouvidos do padre responsável pela paróquia em Barra do Corda. Durante uma reunião dominical, quando João Batista estava com alguns parentes e amigos estudando a Bíblia, sua casa foi violentamente invadida por alguns homens que tinham o propósito de atacá-lo por ordem do padre. Arrancaram de suas mão a Bíblia e foram entregá-la diretamente ao padre. A noite foi feito uma fogueira na praça da cidade, em frente da Igreja Católica e, como sinal de zelo e sob a aclamação dos fanáticos católicos, o padre lançou o Livro Sagrado dentro do fogo, reduzindo-o a cinzas. O objetivo deste insano ato era de intimida João Batista.
Agora estava o missionário sem sua ferramenta. Mas, perseverou na determinação de pregar o evangelho. Sem demora ele escreveu uma carta aos irmãos em São Luís pedindo mais Bíblias. Pediu também que os irmãos orassem pela sua segurança pessoal. A vida ali para ele estava muito difícil e perigosa.
Enquanto esperava a chegada das Bíblia, João Batista continuou falando às pessoas sobre Cristo, recitando os trechos da Bíblia que já havia decorado. Também cantava hinos que traziam a mensagem de vida eterna. Arrancaram-lhe a Bíblia, mas não puderam arrancar de seu coração o conhecimento de Deus e amor em anunciar Sua Palavra. Em um deste dias, foi violentamente atacado por uma turma de vadios inimigos do evangelho que o ridicularizavam, o agrediram fisicamente com os pés e até o apedrejaram. Ali foram derramadas as primeiras gotas de sangue em Barra do Corda em defesa do evangelho. Vendo aquela horrenda cena, o Juiz de Direito, que a tudo assistia, correu em sua defesa e o livrou daqueles jovens mal intencionados, ameaçando-os severamente.
A onda de oposição que estava se formando finalmente começou a perder força, pois viam que a vida de João Batista era um exemplo vivo da mensagem transformadora de Cristo. O efeito, tanto do seu testemunho quanto de sua pregação, foi tão grande que aos poucos as pessoas foram aceitando Cristo como Salvador. Sua sobrinha foi uma das primeiras a aceitar Cristo, fazendo sua profissão de fé pública. A partir de então, um por um de seus parentes se converteram, abandonando as práticas religiosas falsas. Pacientemente ele começou a ensinar esta pequena congregação tudo o que havia aprendido sobre Deus. Ensinava os versículos e os hinos que havia decorado e que se tornaram preciosos. João Batista e a congregação continuaram orando pela chegada das Bíblias que ansiavam por receber.
Tempos depois chegou a resposta de sua carta. E em lugar de apenas um exemplar da Bíblia estavam chegando quatro. Ao entregar o pacote a João Batista o agente dos Correios fez o seguinte comentário: “É bom que o padre não queime estas, porque senão virão dezesseis Bíblias.” A preocupação de todos era se os inimigos do evangelho também queimariam estas Bíblias. Mas, Deus não permitiu que isto acontecesse. As preciosas páginas foram lidas e relidas por aqueles que sabiam ler e todos foram edificados. Através da leitura da Bíblia João Batista viu muitas pessoas conhecendo a Cristo; vidas sendo transformadas; hábitos pecaminosos sendo abandonados.
Os anos se passaram e, após muitas experiências difíceis, surgiu uma pequena igreja em Barra do Corda. Com o coração agradecido, João Batista viu bons frutos produzidos nas vidas dos crentes. Aquela comunidade que nunca se permitira ouvir o evangelho, agora estava sendo transformada pelo poder deste mesmo evangelho. Um grupo de doze famílias salvas se tornou um exemplo de vida cristã para seus vizinhos curiosos e também hostis. Aos poucos outros foram se convertendo e se ajuntando a seus novos irmãos em Cristo.
Em 1901 as famílias Barros, Caetano, Pinheiro e outras já haviam aceitado a Cristo através do testemunho de João Batista. Eram famílias que viviam do cultivo da terra e, como também compartilhavam da mesma fé, decidiram comprar uma propriedade no lugarejo chamado Lagoa da União, município de Barra do Corda, ficando distante de lá 30 km. Formaram ali uma pequena colônia onde poderiam cultivar a terra e sua fé. Algumas pessoas chamavam aquele lugar de “Centro dos Protestantes”. Abdoral Fernandes da Silva o descreveu assim:
Era uma localidade no centro mais denso da mata, destinada ao abrigo de famílias crentes e pobres que se ocupava de cultivar o solo. Era mata sem fim, sem medida, requerida pelo sistema antigo de posse, cujos limites não se conheciam. Naquele lugar não morava ninguém de outro credo. (SILVA, 1997, p. 16)
Logo uma pequena congregação evangélica surgiu em Barra do Corda como resultado do grande esforço de um homem aleijado do corpo, mas com o coração inteiramente dedicado a pregação do evangelho. O grupo crescia e se tornava cada dia mais carente de conhecimento bíblico. Todos oravam incessantemente ao Senhor pedindo que suprisse a urgente necessidade de mais instrução e conforto diante dos permanentes ataques satânicos. Em 1907 receberam como resposta das orações a visita do primeiro missionário naquela região, Sr. Mackenzi. Em 1910, o missionário W.M. Thompsom, pastor da Igreja Presbiteriana em Caxias - Ma., andou 70 léguas a cavalo até Barra do Corda, para ver de perto aquele punhado de remidos perseverantes. Ali foram confortados mutuamente e antes de sair o Pr. Thompsom prometeu ao grupo que a Igreja em Caxias daria todo o apoio necessário àquela congregação e que, a partir daquela data, ela estaria anexada ao seu campo de trabalho. Nascia naquele momento uma congregação presbiteriana.
Minorou um pouco as necessidades, mas João Batista não estava totalmente satisfeito, pois era necessário alguém que servisse permanentemente ali. Ele já não dispunha de boas condições físicas visto que a doença agora já atingia a visão e audição. As repetidas crises de febre tornavam ainda mais espinhosa a vida daquele missionário. Destinado a viver preso dentro de uma rede, João Batista passou a liderança do trabalho para seu cunhado Joaquim Pinheiro e, pouco ia aos cultos. Quando isto acontecia era resultado de extremo esforço para chegar até lá.
Os anos se passaram e João Batista já velho, doente, cego e praticamente surdo, limitado tanto fisicamente quanto de conhecimento, sentia que aquele grupo necessitava de mais alimento da Palavra. Piorando cada dia e não tendo mais condições de sair em busca do sustento, se deixava ficar na rede a qual foi transformada em altar de oração e ali elevava a Deus o constante pedido: “Pai, manda alguém de tua escolha para ensinar a estes crentes a Tua Palavra, para que possam aprender a evangelizar, aprender também a alegria de testemunhar, para se tornarem o sal verdadeiro nessa região a fim de que Teu nome seja engrandecido. Amem.”

Resposta de Suas Orações

Em Grajaú, cidade também do interior do Maranhão, há 200 km de Barra do Corda, residia os missionários Perrin e Ana Smith . Em 1911, de passagem para São Luís, chegam a Barra do Corda onde embarcariam para a Capital. Milagrosamente a lancha que os levaria nesta viagem precisou demorar no porto. O casal de missionários, já tendo ouvido falar do trabalho realizado por João Batista, decidiu ir até sua casa para conhecê-lo. Quando os visitantes chegaram, o velho evangelista não teve dúvidas de que suas orações tinham sido ouvidas e que o casal era a resposta de Deus. Não podendo esconder a alegria num brado disse: “Hoje Deus respondeu minhas orações.” Agora seu coração poderia descansar sobre o futuro do trabalho que havia começado. E como Simeão ele também poderia dizer: “Agora Senhor, despede em paz o teu servo.” (Lc 2:29).
Dali em diante, sempre que podia, Perrin Smith dava assistência àquela congregação e naquele ano realizou mais de 30 batismos. Os crentes lhe pediram para conseguir alguém que pudesse cuidar daquele rebanho tão carente de pastor, pois João Batista já não poderia mais ajudar devido o seu estado de saúde bastante comprometido. Em atendimento ao apelo feito, Smith se comprometeu em transferiria suas atividades missionárias para Barra do Corda assim que retornasse de suas férias no Canadá. Em 1914, como havia prometido o casal Smith, ao retornar do Canadá, fixou residência em Barra do Corda e continuou o trabalho de evangelização iniciado por João Batista ali na pequena cidade indo com a mesma mensagem por varias cidades e lugarejos do Maranhão.

A Despedida do Missionário

Ainda dois longos anos de sofrimento físico se passaram. No dia 22 de março de 1916 João Batista acordou com febre baixa apesar de estar muito desfalecido por causa das febres altas passadas. Chamou sua filha Azubal e com muita dificuldade, mas com convicção, disse as palavras de Paulo: “Acabei minha carreira”. Poucos minutos depois aquele dia se tornava o melhor de toda a sua existência, pois estava com o Senhor, o que era muito melhor.

Resultados do Ministério de João Batista

Com a chegada de Perrin Smith em Barra do Corda para continuar a obra iniciada por João Batista a cidade foi transformada em um centro de expansão missionária. Aquela congregação, agora igreja organizada, estava prestes a se tornar a mãe de mais uma denominação evangélica no Brasil.

terça-feira, 1 de junho de 2010

E JABEZ OROU AO SENHOR!


INTRODUÇÃO

Jabez tinha um nome que qualquer pessoa odiaria, pois seu significado quer dizer “que causa ou causará dores”. Em 1 Crônicas 4:9 diz: “Com muitas dores o dei à luz”. Não se sabe que tipo de dor sua mãe estava se referindo se era física, emocional ou outra qualquer. O fato é que, o nascimento dele estava relacionado a um tipo de dor e ele não tinha como esquecer este fato, pois o nome o acompanharia pelo resto da vida.
“O nome de Jabez, no hebraico, significa seco, dor, tristeza, sem brilho, pálido, cara de doente, infeliz, um morto ambulante”. (TEIXEIRA, 2002, 9). O que se percebe por estes significados é que Jabez nasceu para ser em fracasso em todos os aspectos, pois “... na Bíblia todo nome tem um significado relacionado à vida e à função do individuo”. (TEIXEIRA, 2002, 9).
Nos tempos bíblicos o significado do nome de Jabez – "dor”, não era um bom presságio para seu futuro. Mas o registro bíblico mostra que ele superou todas as adversidades e se tornou o “mais ilustre entre todos os seus irmãos” (1 Cr 4:9). Qual teria sido a causa desta reviravolta?
Jabez nunca fez parte de nenhum grande evento registrado na Bíblia como Moisés, José, Davi, Paulo, ou os 12 apóstolos. Seu nome está em uma das partes da Bíblia menos lida. Mas, “Havia alguma coisa especial neste homem que foi capaz de levar o historiador a fazer uma pausa na ladainha, limpar a garganta e mudar a forma.” (WILKINSON, 2001, 13). É como se Deus dissesse ao escritor, “tem um homem aqui que é diferente dos demais e vocês precisam saber por que”. Jabez orava. E, em sua oração ele pediu quatro coisas que certamente contribuíram, em muito, para a vida de sucesso e não de derrota como apontava seu nome.
“Pedir é o prelúdio de uma vida de milagres”. (WILKINSON, 2002, 23). Deus vai responder sim ou não. Se o que pedirmos for prejudicial para nós Ele, com certeza dirá não, mas se for para o nosso bem, dirá sim. Ele nunca nos dará nada que seja para ao nosso mal.

1º PEDIDO – “OH! QUE ME ABENÇOES!”
Jabez nasceu na Tribo de Judá e viveu em Israel, no reino do sul, no período dos juizes. Ele cresceu em um ambiente onde ouvia muito sobre Deus, sobre seus grandes feitos. Como tinha libertado Israel e lhe dado uma boa terra. Não era difícil para ele confiar nesse Deus de milagres e recomeço. Então pediu um para si. “Oh! Que me abençoes!”
Mas, o que é abençoar? ”Abençoar significa favorecer, dar prazer, trazer alegria, trazer sucesso.” (WILKINSON, 2002, 21). “... significa pedir ou conceder um favor sobrenatural. Ao clamarmos pela bênção de Deus, não estamos pedindo aquilo que poderíamos conseguir com nosso próprio esforço. Estamos clamando pela maravilhosa e ilimitada bondade que apenas Deus tem poder de conhecer plenamente e de nos conceder. (WILKINSON, 2002, 25).
Não devemos nos esquecer de que Jabez, certamente não tinha tido uma vida muito fácil e o que lhe aguardava também não era um final feliz. Mas ele, que cria no Deus de milagres não exitou em clamar: “Oh! Deus que me abençoes”. Conforme Wilkinson (2001, 24), no hebraico esta frase seria “Abençoe-me muito, mesmo!”
Em Mateus 7:7, 8 diz: “Pedi e dar-se-vos-á…”. Se Cristo disse isto é porque está disposto a ouvir os nossos pedidos. E o pedido aqui é: Oh! Que me abençoes! Favoreça-me, dê-me prazer, alegria, sucesso, etc.
1 Coríntios 2:9 diz que Deus tem preparado benção em abundância para nós. “...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” Certamente é algo que não podemos fazer, comprar, encontrar em algum lugar. É algo que Deus tem reservado como, milagres, para nós e, só Ele pode nos dá. Por isto a necessidade da oração “Oh! Que o Senhor me abençoe”.
Deus quer nos abençoar, só temos que pedir isto. Pedimos a Deus que abençoe o alimento, nossos familiares, amigos e até em alguns casos, os inimigos. Porque não pedir que “me” abençoe? “Deus deseja que eu queira tanto suas grandes bênçãos que tome a iniciativa – pedindo-as – ou as perderei.” (WILKINSON, 2002, 22). “Nada tendes, porque nada pedis;” (Tg 4:2).

2º PEDIDO – “OH! QUE ME ALARGUES AS FRONTEIRAS”

Além de Jabez ter pedido para que Deus o abençoasse também pediu “que alargues as minhas fronteiras”. Isto significa pedir “… a Deus que engrandeça sua vida de modo que você possa causar maior impacto para ele.” (WILKINSON, 2001, 33)
Fazer esta oração é pedir “... mais influência, maior responsabilidade e mais oportunidades” (WILKINSON, 2001, 33) para serví-Lo. É pedir para ir além do que os outros estão indo. Não se conformar com mediocridades, mas querer fazer e ser mais, a exemplo de Jabez que “Foi mais ilustre do que seus irmãos”. (1 Cr 4:9) É dizer: “Deus, dê-me um ministério maior!”. Com isto vêm as oportunidades que às vezes não estamos preparados para elas. Portanto, junto com este pedido devemos também pedir que Deus nos dê condições físicas, espirituais, emocionais e psicológicas para atingirmos as novas fronteiras. Orar assim é pedir “... por uma vida mais ampla no serviço do Senhor”. (WILKINSON, 2001, 43)
Quando começarmos a orar pedindo que o Senhor amplie nossas fronteiras, se não for para autopromoção, satisfação de desejos egoísta, mas sim para a glória de Deus e edificação do seu povo, Deus vai abrir portas e pôr pessoas em nosso caminho. “Não raro você sentirá medo ao começar apossar-se do novo território para Deus, mas também vai experimentar uma emoção enorme ao sentir Deus conduzi-lo em suas atividades.” (WILKINSON, 2001, 45).
“Orar por fronteiras alongadas é nada menos que pedir um milagre. Um milagre é uma intervenção divina que provoca um evento que normalmente não ocorreria” (WILKINSON, 2001, 47). Deus nunca vai enviar alguém para ajudarmos, ou nos colocar em um lugar em que nós não podemos ajudar. Nós somos instrumentos através dos quais Deus vai realizar sua obra. Por isto não podemos nos esquecer que os resultados todos decorrentes deste alargar de fronteiras é mérito de Deus e não nosso. A Ele toda glória!
Milagre era o que Jabez precisava para mudar o rumo que seu nome apontava – dor e fracasso. Milagre é o que nós precisamos para enfrentar as dificuldades do ministério. Que a motivação desta oração seja: “Eu quero mais de Ti porque quero ser mais usado por Ti.”
Quando pedirmos que “alargues as minhas fronteiras” devemos estar dispostos a abrir mão de nossa zona de conforto onde temos a sensação de repouso e segurança, para assumir novos territórios.
A preguiça, o comodismo e até o mesmo o medo nos impedem de fazermos esta oração. Estas são características de um servo que prefere viver na mediocridade cristã e ministerial. Para alguns o medo é interpretado como sendo uma resposta negativa de Deus sobre um pedido de “alargar fronteiras”. Deus disse a Josué 1:9 “… Sê forte e corajoso…”. Aqueles que têm se deixado usar, poderosamente, por Deus são os que avançam “… para a zona de desconforto porque é exatamente o lugar onde as fronteiras começam a se expandir”. (WILKINSON, 2002, 56)
Quais as fronteiras que você gostaria de pedir para Deus alargar em sua vida?

3º PEDIDO – “QUE SEJA COMIGO TUA MÃO”

O terceiro pedido de Jabez foi para que a mão do Senhor estivesse sobre ele. Mas, o que isto significa? “A mão do Senhor é um termo bíblico para expressar o poder e a dependência de Deus na vida de seu povo”. (WILKINSON, 2001, 59). Exemplos:
• Josué 4:24 - Para que todos os povos da terra conheçam que a mão do SENHOR é forte, a fim de que temais ao SENHOR, vosso Deus, todos os dias.
• Isaías 59:1 - Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir.
• Atos 11:21. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor.
No Novo Testamento o termo “a mão do Senhor” é representado pelo enchimento do Espírito Santo. Quando Cristo deu a tarefa de “ir fazer discípulos de todas as nações”, estava dando aos discípulos uma grande benção e uma tarefa difícil. Eles eram pessoas com sérios limites, portanto, seria difícil cumprir a grande comissão que lhes foi dada. Mas, Cristo conhecendo cada um, bem como seus limites, deu-lhes o Espírito Santo e seu poder miraculoso para realizar a tarefa, antes impossível. Já cheios do Espírito Santo, veio a conseqüência: “Falavam com intrepidez” (At 4:13; 5:29; 7:51; 9:27). “Apenas Deus, trabalhando através deles, poderia executar os milagres e as conversões em massa que se seguiram.” (WILKINSON, 2001, 60). É como se Deus dissesse “Você não tem idéia de como será incapaz se eu retirar minha mão” (WILKINSON, 2002, 117). Ou seja, se Eu retirar minha mão, vocês não conseguirão. Afinal, “sem mim nada podeis fazer” (Jô 15:5)
Quando pedimos para Deus alargar nossas fronteiras e elas começam a se expandir, começamos a assumir maiores responsabilidades e junto vem o MEDO por acharmos que não vamos conseguir; FRUSTRAÇÕES por não sabermos como resolver certas situações. DÚVIDA e perguntamos: “será que me enganei achando que esta era à vontade de Deus? Tem certeza que sou a pessoa certa para esse trabalho.”
WILKINSON define estes sentimentos como uma fuga da dependência de Deus, pois somos auto-suficientes o bastante para achar que não precisamos depender tanto Dele. E, “…no momento em que você não estiver se sentindo dependente estará deixando de viver verdadeiramente pela fé” (WILKINSON, 2001, 51).
Oportunidades que contradizem nossas habilidades surgem e a primeira idéia é desistir ou não aceitar, mas acabamos aceitando firmados na promessa de que “De maneira alguma te deixarei nunca, jamais te abandonarei.” (Hb 13:5). Isto é dependência de Deus. É por isso que Ele nos coloca nestas situações para que vejamos o milagre e tenhamos a certeza de que Ele esta neste negócio conosco. Dependência para fazermos o mesmo clamor que Jabez fez: “que seja comigo a tua mão”. Aí o Senhor vem em nosso auxilio e demonstra “…sua glória por meio de todas aquelas aparentes impossibilidades” (WILKINSON, 2001, 53)
Porque Jabez não iniciou a sua oração pedindo que a mão do Senhor estivesse sobre ele? Porque ainda não tinha suas fronteiras alargadas e também não tinha consciência desta necessidade. Ele ainda estava no controle. Milagres não estavam acontecendo e sua vida ainda estava dentro da zona de conforto. Mas, com a resposta de seu pedido, suas fronteiras “…começaram a se alargar e tarefas proporcionais ao tamanho de Reino de Deus começaram a se colocar diante deles, Jabez sabia que precisava de uma mão divina – e rápido.” (WILKINSON, 2001, 53).
Jabez poderia ter desistido diante das dificuldades e ter voltado para sua zona de conforto ou ter tentado continuar pelo seu próprio esforço. Mas, viu que não daria certo e preferiu pedir que a mão de Deus estivesse sobre ele. E “…requerer que a mão de Deus esteja sobre nós é a nossa escolha estratégica para que as grandes coisas que Deus está fazendo em nossas vidas se perpetuem e continuem a florescer.” (WILKINSON, 2001, 54). Com isso teremos consciência de que o sucesso não é nosso, mas de Deus. Homens e mulheres que dependem de Deus tem esta atitude humildade porque sabem que toda a sua força e sucesso vêm do Senhor. A Ele toda honra e toda glória! (2 Co 3:5,6). É nesta dimensão que Deus quer que vivamos: em sua dependência.
Em 2 Crônicas 16:9 diz: “Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele.” Deus não está a procura de gigantes espirituais, intelectuais ou talentosos. Deus busca àqueles que são sinceramente leais a Ele. Nossa parte se resume em dar-lhe um coração fiel e desejoso de ser cheio do Espírito Santo. Para nós cristãos, dependência é sinônimo de poder e não de fracasso.
É na nossa impotência que Deus quer agir. Na Bíblia, a mão do Senhor representa poder, presença de Deus, enchimento do Espírito Santo. Não há nenhuma passagem em toda a Bíblia em que “... o enchimento do Espírito Santo seja mencionado e não esteja em conexão com o testemunho do serviço” (WILKINSON, 2002, 82). Ou seja, Deus não enche ninguém que não queira fazer algo para Ele. Que não busque o alargar de suas fronteiras e esteja disposto a pagar o preço.
“Oh! Que esteja sobre mim tua mão. Enche-me com teu Espírito.” Que seja esta a nossa oração. E aí “…veremos resultados tremendos que podem ser explicados somente como vindos da mão de Deus.” (WILKINSON, 2001, 60).

4º PEDIDO – “QUE ME PRESERVES DO MAL!”

O quarto pedido de Jabez foi “Que me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição!”
Bruce Wilkinson ( 2001, 68) diz que “... o sucesso traz consigo grandes oportunidades de fracasso.” Quantos líderes cristãos não caíram em pecado ou foram dispensados do ministério por causa da arrogância. Quantos não caíram por causa do orgulho por terem atingido o status de “estrela” entre os conferencistas, cantores, pregadores entre outros. Receber as bênçãos de Deus sem humildade pode ser um grande perigo, pois o sucesso nos deixa propenso à arrogância.
Agostinho, analisando ao Salmo 140:1 “Livra-me do homem mau...” diz que: “Talvez penses eu algum ladrão e, quando oras, ores com intenção de que Deus te liberte deste ou daquele inimigo teu. Tu mesmo és o homem mau. Quando Deus tiver te libertando do homem mau que tu mesmo és, nada te prejudicará independente de quem quer que seja esse outro homem mau. Que Deus te liberte de ti!” (WEINGARTNER, 2005, 9). O mal pode está em outras pessoas, mas, pode ser que esteja em nós mesmos. Esteja onde estiver, precisamos fazer esta oração de proteção.
Quanto mais andamos nos caminhos cheios das bênçãos do Senhor, mais dardos inflamados do maligno serão lançados contra nós, pois somos uma ameaça ao seu reinado. Por isso precisamos desta oração: “Oh! Que me preserves do mal!”. - Que me preserves da inveja, ciúmes, calúnias, ataques malignos contra a família e reputação. Que me preserves de mim mesmo e do mal que está em meu coração. Nós estamos na batalha e se isto não acontecer, devemos nos preocupar, pois o diabo não está mais interessado em nós, o que significa que não lhe somos ameaça, mas que somos no ministério, líderes infrutíferos e inativos. “Quanto mais poderosamente Deus usá-lo, mas precisará da proteção divina contra a tentação e os ataques diretos do inimigo” (WILKINSON, 2002, 121).
Na oração dominical Cristo ensina seus discípulos a orarem assim: “e não nos deixes cair em tentação, mas, livra-nos do mal.” (Mt 6:13). Do mesmo modo que Deus quer que lhe peçamos mais bênçãos, fronteiras alargadas, e sua mão sobre nós, Ele deseja que peçamos, também, Sua proteção. “As tentações são armadilhas; trate-as com delicadeza e elas voltarão trazendo outras juntas.” (WILKINSON, 2002, 118). E “... a estratégia mais importante para acabar com a tentação é fugir dela completamente.” (WILKINSON, 2002, 98). É evitando-as a qualquer custo.


CONCLUSÃO

Em sua pequena oração Jabez pediu quatro coisas. Aparentemente pedidos corriqueiros e automáticos como muitas vezes fazemos. Mas, uma oração desta, feita em espírito e em verdade (Jo 4:23) pode mudar a vida de qualquer um que a fizer, mesmo daqueles que acham que estão fadados à derrota. “Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: Oh! Tomara que me abençoes e me alargues as fronteiras, que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido.” (1 Cr 4:10). O poder não está na “oração” como se fosse um amuleto, mas em Deus que sonda os corações que a fazem.
Em vez de se lamentar ou murmurar, Jabez orou, sua vida mudou, foi registrado na história de Israel para servir com testemunho do que Deus fez e pode fazer ainda hoje. Pessoas que têm ousado fazer esta oração têm experimentado mudanças em suas vidas. Mas, muitas outras preferem a murmuração em vez da oração. A Bíblia registra a história de um povo que era especialista em murmuração: Israel – E Moisés disse para eles: “Vocês não estão reclamando de nós, mas de Deus”. (Ex 16:8b)
Quais têm sido as nossas murmurações? Contra os lideres? Porque outros prosperam? Dificuldades no ministério? Familiares? Quais????
A recomendação de Paulo em 1 Coríntios 10:10 – 12 é: “Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador.” “Quantos têm morrido em tantos setores e áreas da vida, pelo fato de estarem contaminando a si mesmo e aos outros com o pecado da murmuração” (TEIXEIRA, 30). Mas, há remédio para a murmuração: Oração e vida com Deus. Jabez, em vez de murmurar por causa de sua vida, orou a Deus.
Deus respondeu a oração de Jabez, o honrou e ele foi considerado mais ilustre do que seus irmãos. Isto porque não se contentou em viver de migalhas ou na mediocridade. Não se deixou intimidar pelo mau presságio que seu nome apontava. Não se sentou no sofá da derrota murmurando. Mas, preferiu crer e depender do Deus que tudo pode, inclusive mudar-lhe o futuro que parecia assombroso.
“Ganhar honras quase sempre significa deixar para trás expectativas medíocres e pressupostos confortáveis.” (WILKINSON, 2001, 84). Deus honra aquele que quer ver suas fronteiras alargadas, não para receber honras humanas, mas, para ser mais usado por Deus.
Ao fazermos esta oração devemos estar dispostos a deixar que Deus trabalhe em nossa vida e através de nós e nos leve para onde Ele quiser. “A vontade dele sempre será para seu bem.” (WILKINSON, 2001, 93). Deus jamais nos dará algo ou nos colocará em um lugar se não for para o nosso bem.


Estudo baseado nas obras:

A oração de Jabez, Bruce Wilkinson. Mundo Cristão, São Paulo: 2001.
A oração de Jabez: devocional, Bruce Wilkinson. Mundo Cristão, São Paulo: 2002
J.a.b.e.z : na rota do sucesso, Ivonildo Teixeira. Hagnos, São Paulo: 2002.
Flores do Jardim de Agostinho, Lindolfo Weingartner. Encontro – Curitiba, 2005.